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terça-feira, 19 de agosto de 2014

"Família César"




Na foto de 1942, os Pioneiros, Sebastião de Mello César e Maria de Oliveira Mello posam para a História de Londrina
                                                             





A Terra da Promessa

         Em fevereiro de 1940 chegamos a Londrina.
         A terra roxa acenava com promessas prodigiosas e os cafezais do norte do Paraná atraíam pessoas e famílias de quase todo o Brasil: Minas, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, etc. que vinham em busca de uma vida mais tranquila, da riqueza fácil. Até corriam lendas sobre a nova terra.
          Diziam que em Londrina se puxava dinheiro com rodo, quando queriam dizer que ganhavam dinheiro a rodo; os gozadores então, afirmavam que pessoas morreram em outros lugares, ressuscitam aqui, e eram vistos sentados em baixo das árvores, contando um montão de dinheiro. Nesse mesmo tom de gozação, eu dizia que gostaria de chegar e encontrar meu tio Nico, sentado debaixo de uma grande figueira, à frente de sua máquina de escrever “Ollivetti”, escrevendo um artigo para o “Paraná Norte”, jornal de Londrina. É que uma boa parte de nossa tipografia fora vendida a esse jornal. O que sobrou de nossa tipografia, veio conosco, pois papai pretendia continuar na nova cidade, o mesmo ramo de negócios com que vivera até então e, esperava muito mais, que aqui, teria muito mais serviço, pois a cidade que já nascia rica, prometia muito. Logo percebemos que a pequena papelaria que abrimos junto à oficina, oferecia muito mais vantagens. E foi assim que nasceu a primeira papelaria de Londrina, depois, “Livraria e Papelaria César”, que vendeu cadernos, lápis, borracha, papel almaço, blocos de carta, cartolina, etc. a todas as crianças que frequentavam os grupos escolares e a muitos e muitos outros estudantes, pelos tempos afora. Pouco tempo depois éramos proprietários de uma grande livraria e a metade da família trabalhava nela; mamãe ajudava no balcão e, nós achávamos engraçado que ela mandou colocar bolsos em todos os seus vestidos; fraco gosto, dizia a minha irmã. Logo descobrimos o seu segredo...é que ela gostava de guardar um dinheirinho escondido, um pouquinho de cada venda, pois papai tinha fama de “pão- duro”, e ela precisava salvaguardar as despesas extras, que os filhos começavam a exigir.
         Era muito divertido ouvirmos nossos pais comentarem a respeito dos diferentes fregueses que apareciam por lá. Muitos moços vinham comprar caderneta e diziam: tem “caderneta” de índice? Meu pai com sua outra fama, a de ser muito positivo, corrigia logo, e meus irmãos ficavam vermelhos de vergonha...algumas pessoas pediam papel com “pausa” e outras perguntavam se podiam escolher os livros na “parteleira” e papai ficava muito decepcionado com as escolas que não ensinavam quase nada aos alunos. Eu nunca pude ajudar no balcão, pois sendo muito lenta na matemática, nunca sabia fazer um troco e dava muito prejuízo no negócio.
          Papai e mamãe sempre foram bondosos e amigos dos fregueses; chegasse alguém reclamando que não podia pagar todo material escolar de uma só vez, comprava fiado e, naquela Londrina onde todo mundo só pensava em dinheiro, vender fiado era só mesmo o “seu
Sebastiãoda papelaria... Muitos voltavam para pagar e faziam novas compras, outros não apareciam nunca mais, e papai então, aplicava o seu refrão: “Vendi fiado uma vez, perdi o amigo e o freguês”. Mas era só um justificar o calote e o próximo que aparecia com aquela lenga-lenga de dificuldades financeiras, levava fiado outra vez.
          Por sua vez, mamãe pegava romances da vitrine e os emprestava a algumas pessoas que desejavam ler mas não podiam comprar... só muito depois, quando minha mãe morreu ficamos sabendo daquele seu gesto tão generoso, que contribuiu para o aprimoramento literário de tantas pessoas.

Transcrição:  “A Terra da Promessa” Páginas,58 e 59
Livro: Tantos Anjos
Autora: Paulina de Oliveira César

         
Na foto da década de 50, os "Anjinhos Travessos" da Família César, netos dos Pioneiros: Sebastião e Maria.

Da esquerda para direita; Teolina, Elza Maria, Olavo, David, Ronaldo, Tercio (bebe), Dinah Raquel, Terceu, José Carlos, Silvia Maria.

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