Na foto de 1942, os Pioneiros, Sebastião de Mello César e Maria de Oliveira Mello posam para a História de Londrina
A Terra da Promessa
Em fevereiro
de 1940 chegamos a Londrina.
A terra roxa acenava com promessas
prodigiosas e os cafezais do norte do Paraná atraíam pessoas e famílias de quase
todo o Brasil: Minas, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, etc.
que vinham em busca de uma vida mais tranquila, da riqueza fácil. Até corriam
lendas sobre a nova terra.
Diziam que em Londrina se puxava dinheiro com rodo, quando
queriam dizer que ganhavam dinheiro a
rodo; os gozadores então, afirmavam que pessoas morreram em outros lugares,
ressuscitam aqui, e eram vistos sentados em baixo das árvores, contando um
montão de dinheiro. Nesse mesmo tom de gozação, eu dizia que gostaria de chegar
e encontrar meu tio Nico, sentado debaixo de uma grande figueira, à frente de
sua máquina de escrever “Ollivetti”,
escrevendo um artigo para o “Paraná
Norte”, jornal de Londrina. É que uma boa parte de nossa tipografia fora
vendida a esse jornal. O que sobrou de nossa tipografia, veio conosco, pois
papai pretendia continuar na nova cidade, o mesmo ramo de negócios com que
vivera até então e, esperava muito mais, que aqui, teria muito mais serviço,
pois a cidade que já nascia rica, prometia muito. Logo percebemos que a pequena
papelaria que abrimos junto à oficina, oferecia muito mais vantagens. E foi assim que nasceu a primeira
papelaria de Londrina, depois, “Livraria
e Papelaria César”, que vendeu cadernos, lápis, borracha, papel almaço, blocos
de carta, cartolina, etc. a todas as crianças que frequentavam os grupos escolares
e a muitos e muitos outros estudantes, pelos tempos afora. Pouco tempo depois
éramos proprietários de uma grande livraria e a metade da família trabalhava
nela; mamãe ajudava no balcão e, nós achávamos engraçado que ela mandou colocar
bolsos em todos os seus vestidos; fraco gosto, dizia a minha irmã. Logo
descobrimos o seu segredo...é que ela gostava de guardar um dinheirinho
escondido, um pouquinho de cada venda, pois papai tinha fama de “pão- duro”, e ela precisava salvaguardar as despesas extras, que os
filhos começavam a exigir.
Era muito divertido ouvirmos nossos
pais comentarem a respeito dos diferentes fregueses que apareciam por lá.
Muitos moços vinham comprar caderneta e diziam: tem “caderneta” de índice? Meu
pai com sua outra fama, a de ser muito
positivo, corrigia logo, e meus
irmãos ficavam vermelhos de vergonha...algumas pessoas pediam papel com “pausa” e outras perguntavam se podiam
escolher os livros na “parteleira” e
papai ficava muito decepcionado com as escolas que não ensinavam quase nada aos
alunos. Eu nunca pude ajudar no balcão, pois sendo muito lenta na matemática,
nunca sabia fazer um troco e dava muito prejuízo no negócio.
Papai e mamãe sempre foram bondosos e
amigos dos fregueses; chegasse alguém reclamando que não podia pagar todo
material escolar de uma só vez, comprava fiado e, naquela Londrina onde todo mundo só pensava em dinheiro, vender
fiado era só mesmo o “seu
Sebastião” da papelaria... Muitos voltavam para pagar e faziam novas
compras, outros não apareciam nunca mais, e papai então, aplicava o seu refrão:
“Vendi fiado uma vez, perdi o amigo e o
freguês”. Mas era só um justificar o calote e o próximo que aparecia com
aquela lenga-lenga de dificuldades financeiras, levava fiado outra vez.
Por sua vez, mamãe pegava romances da
vitrine e os emprestava a algumas pessoas que desejavam ler mas não podiam
comprar... só muito depois, quando minha mãe morreu ficamos sabendo daquele seu gesto tão generoso, que contribuiu para o
aprimoramento literário de tantas
pessoas.
Transcrição: “A
Terra da Promessa” Páginas,58 e 59
Livro: Tantos Anjos
Autora: Paulina de Oliveira César
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