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terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Vida de Ginásio"

              Alunas  da  Turma de 1944 do Ginásio Londrinense  em 15/09/44 no Bosque de Londrina                                       
         Em pé, da esquerda para direita: Circe Rocha Loures Bueno, Arany Mascaro Garcia, Celma de Azevedo, Kilda Gomes Prado, Silvandira Ferraresi. Sentadas: Dulce Bonalumi, Dorothéa Passos, Esmeralda Silveira Cintra.
   

              Aqueles quatro anos de ginásio, foram os melhores anos da minha vida! Meu colégio chamava-se Ginásio Londrinense e era pioneiro do ensino secundário em Londrina. Vivíamos os anos mais terríveis da 2ª Guerra Mundial e por esse motivo, por essas circunstâncias, nosso curso assumia um caráter de muita seriedade e de muita responsabilidade, sem permitir entretanto que as dores do mundo nos atingissem completamente, embora o idealismo e o patriotismo fossem reais e muito fortes em todos os nossos objetivos. Os professores eram excelentes, alguns severos e exigentes, outros mais maleáveis e bonzinhos, mas todos “mestres verdadeiros”.
               O professor de português gostava de dar castigos, quando nosso desempenho o decepcionava: copiar 200, 300 e até 500 vezes, trechos de Rui Barbosa, em sua “Oração aos moços”; decorar longos poemas e declama-los na sala de aula. O professor de latim, fazia os discursos mais lindos sobre os gregos e romanos, enquanto íamos decorando as declinações mais complicadas; até inventamos um corinho para cantarmos nos momentos de pausa, quando Camões, Cícero, Homero e Virgílio se aquietavam para o mestre fumar seu cigarrinho, na sala de aula. Alguns professores tinham apelidos: o que tinha um nariz muito grande, era o Bitusa, numa analogia ao ângulo obtuso; o que cortava nossas notas ao sabor da sua vontade e na medida que o enfurecíamos com as nossas brincadeiras, era o Bisturi; conforme o mestre fosse mais amigo, ou mais bravo, haviam outros apelidos, como: Bodinho, Bambi, Coruja e outros bichos mais. Todos os alunos eram muito amigos e sempre que um ou outro enfrentava problemas, todos se uniam para ajuda-lo. Tivemos um Grêmio Esportivo e Literário que marcou época; editávamos uma revista, na qual muitos colegas iniciaram suas carreiras jornalísticas, poetas e políticos.
             Vinte anos depois de concluirmos o curso, nos encontramos pela primeira vez, encontros e reencontros que aconteceram e acontecem ainda, de 5 em 5 anos. Também os nossos ex-professores participavam dessas festas. No decorrer dos anos, mestres e colegas, muitos deles morreram e os encontros foram ficando cheios de recordações tristonhas... Mas essa turma tem um lema, adotado desde a primeira festa: “Quem viver virá”! E assim que completamos 50 anos de formatura, o nosso jubileu, fizemos uma festa muito grande e bonita; fomos homenageados pela Câmara de Vereadores e tivemos o privilégio de editar um número de uma revista, onde todos os ex-alunos puderam escrever algo, sobre suas vidas ou mesmo recordando o tempo de ginásio. O destaque dessa edição é que alguns exemplares da nossa revista foi colocada numa urna, junto com muitos outros documentários sobre a nossa cidade, para ser aberta cem anos depois; essa urna está guardada no Museu Histórico de Londrina.
               Os reencontros da turma são alegres e saudosistas. Recordamos as brincadeiras do tempo do colégio, inclusive aquelas que eram perigosas, como roubar frutas na chácara do japonês, perturbar as aulas com as célebres musiquinhas produzidas por giletes pregadas nas carteiras, trote aos calouros, mentiras para salvarmos as peles nos apuros, os namoros escondidos, as paixões recolhidas, etc. Também cantamos e recantamos as canções que embalaram aqueles quatro anos como a canção da Luz, do Expedicionário, Cisne Branco, Marselhesa e muitas outras. Cantamos também as composições de um dos colegas que era o “galã da turma” e o chamávamos de Castro Alves, em homenagem a sua vasta e brilhante cabeleira. O tempo levou-lhe impiedosamente, a cabeleira fio por fio, mas felizmente, lhe conservou a musa e a inspiração.
              Obedecendo ao lema adotado, “Quem viver virá”, penso que por mais algumas vezes, haverá encontros, cada vez menores, bem sabemos, até que um dia, um único ex-aluno da primeira turma do Ginásio Londrinense, estará levando rosas para os seus amigos!


Transcrição:

 Texto: “Vida de Ginásio” – págs. 89, 90, 91
Livro: Tantos Anjos

Autora: Paulina de Oliveira Cesar
Colegas de turma que cultivam a amizade da adolescência até hoje, regada com muito amor, e companheirismo;  as  lindíssimas jovens, Silvandira e Paulina (autora do texto).


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